#8 Jamais te deixes filiar

 

 

“Jamais te deixes filiar”, disse um dia Nietszche.
Nos
meus já longos 20 anos de PSD, essa frase volta e meia atormenta-me e ecoa-me
como reflexão que se impera obrigatória, para mais num livre pensador como
eu, considerado mesmo um excêntrico em alguns aspectos, em contraposição com a habitual
“carneirada carreirista” com a qual volta e meia tenho convivido.
Conheci
vários líderes ao PSD. Ajudei a eleger alguns, mesmo.
Fui
a todos os congressos desde essa altura, desempenhei vários cargos nacionais. Era
mesmo conselheiro nacional até este último congresso, em que decidi não
integrar nenhuma lista candidata e declinar os habituais e “sedutores” convites.
Conheci
o PSD de Cavaco Silva que desprezava a máquina e o aparelho. O PSD pouco
entusiasta de Fernando Nogueira. O PSD dos “dois terços mais um” de Marcelo e
das diatribes com Portas. O PSD de Barroso de olhos postos na Europa. O PSD
vanguardista de Santana com uma armadilha feita ao próprio. O PSD de Marques
Mendes e os seus falsos moralismos. O PSD conservador de Manuela Ferreira Leite
que excluiu Passos Coelho da lista de deputados. O PSD do nortenho Luis Filipe
Menezes, que desistiu ao fim de pouco tempo. Enfim, o PSD de Passos Coelho.
Alguns
destes líderes, eleitos mesmo com o meu entusiasta apoio. Claro que o balanço
só se faz depois.
Em
todos, vi serem aprovadas moções por mim apresentadas que depois em nada foram
cumpridas. Aliás, durante muitos anos gastei muito do meu tempo, pensando
Portugal e o meu concelho, para apresentar propostas em sede própria.
Sempre
aprovei o que pensava, por vezes por unanimidade. E depois? E depois: NADA.
Em
todos os congressos, li atentamente conteúdos programáticos de encher o olho,
mas pouco estruturantes e a definirem um caminho perceptível, cá fora. Mas se
até assim é nos programas eleitorais colocados a sufrágio ao povo, de que vale
a pena espantar-me?
Ouvia
eu atentamente António Costa, Presidente da Câmara Municipal de Lisboa e
candidato não assumido a Secretário Geral do Partido Socialista, que a par de
Pacheco Pereira e Lobo Xavier, dissertavam sobre o congresso do PSD.
Dizia
Pacheco Pereira que “não se desfiliava, porque ainda não entendia esgotada a
possibilidade da social democracia regressar ainda ao PSD”, porque a entendia
viva, num país que em vários casos como no Porto, em Sintra, ou em Oeiras,
havia optado por caminhos independentes.
Ou
seja, no seu ponto de vista, tratavam-se de social democratas convictos, que
recusando lógicas internas do seu partido de sempre, optaram por caminhos
social democratas estrategicamente apelidados de “independentes”.
António
Costa por sua vez, dizia que “a social democracia está viva no Partido
Socialista” e de que quem se rever nessa linha ideológica, tem lá o seu espaço.
Eu
vou sem dúvida mais longe que qualquer um deles. Porque a democracia está é podre.
As
direcções dos partidos, com maior ênfase nos do arco do poder, baralham-se e
desmultiplicam-se em afirmações que desdizem logo de seguida.
Conheço
muitíssimo bem o PSD. Mas conheço bastante bem o PS, o CDS e o PCP.
Não raras
vezes, nestas duas décadas, dialoguei com amigos meus, seus dirigentes locais,
distritais e nacionais. As histórias são as mesmas, com outras caras apenas e a
cobro de “ideologias diferentes”.
O BE
não o consigo levar a sério, pese embora por vezes a generosidade de algumas
boas ideias. Todavia, quando penso na possibilidade de algum dia chegar ao
poder, assusto-me ainda mais.
Dos
outros partidos não falo sequer, distantes que ainda se encontram de se
afirmarem na sociedade portuguesa. Com, ou sem razão.
E
neste quadro, a frase de Nietzsche ecoa com força: “Jamais te deixes filiar”.
Do
associativismo apartidário, cheguei eu ainda miúdo, à filiação posterior num
partido. Serei dos poucos que leu a sua história, que interpretou a sua
ideologia e que se identificou com ela. Conheci homens e mulheres de elevada
craveira ética e intelectual. Outros… bom… outros menos.
Mas
de pouco nos servem as palavras se não se transformarem em actos no dia a dia,
num discurso de verdade.
Olho
à esquerda e à direita de Passos Coelho e já não há homens providenciais. Já
não há líderes carismáticos como foram nas suas épocas: Sá Carneiro, Mário
Soares, Freitas do Amaral e Álvaro Cunhal.
Vivemos
outros tempos, é certo. E se muito do que o PSD de hoje tem feito é estritamente
necessário, à luz de erros graves que vêm de governos anteriores, verdade
também é, que muito do que este governo tem feito, não tem tido a minha
concordância.
E
agora, Nietzsche? E tu, Portugal?
 
* Artigo original de opinião, por mim publicado hoje em:

http://www.oeirasdigital.pt